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A Unidavi foi notícia no site da UOL

10/12/2020


Era uma tarde de sábado de novembro, em plena pandemia, quando uma sala foi ficando repleta de convidados. Pais, mães, parentes e professores se reuniram para assistir juntos à colação de grau dos alunos da Unidavi (Universidade do Alto do Vale do Itajaí), no interior catarinense. 

Passados poucos minutos do horário marcado, a solenidade já contava com mais de 120 convidados, que conversavam empolgados enquanto aguardavam o início da formatura. Essa história soaria quase absurda e passível de denúncia, não fosse um detalhe importante que deixaria Átila Iamarino orgulhoso: a formatura era virtual, e acontecia em uma confluência das tecnologias de reunião por videoconferência do Google Meet e de transmissão ao vivo em um canal do YouTube.

Apesar do formato excêntrico, havia emoção e empolgação. Familiares e amigos se alvoroçaram no chat do YouTube, comemorando com frases em caixa alta e uma profusão de emojis de coração e beijinhos. "Parabéns a todos os formandos, em especial a minha filha", celebrou uma mãe orgulhosa, seguindo a onda de tantos outros convidados da colação de grau virtual, que destacavam os "orgulhos da família" entre gritos (digitados) e mais emojis de palmas, brindes e garrafas de champanhe.

O vozeirão de locutor de rádio de Otávio Kaufmann, o mestre de cerimônia, deu início à solenidade como se falasse para um auditório cheio. Os únicos presentes em um mesmo recinto físico foram aos poucos sendo chamados ao púlpito do auditório, no campus da universidade. Além do reitor Alcir Texeira, outros seis professores - todos devidamente mascarados - foram testemunhas da versão digital da outorga de grau aos 51 formandos do segundo semestre de 2020. Nos bastidores, a coordenadora de eventos Lilian de Morais organizava os graduandos em uma conferência virtual e atuava como braço direito do técnico de TI, que passaria os próximos 40 minutos em um ritmo frenético de controle de tela, decidindo qual aluno apareceria em destaque na transmissão no canal da Unidavi no YouTube. Foram certamente momentos de tensão para o técnico.

Talvez contidos pelas instruções da coordenadora sobre a importância do dresscode ou pela seriedade do tom do reitor e do mestre de cerimônia, a maioria dos formandos apenas mencionou um breve e sorridente "obrigado" ou "obrigada". O único que não se conteve foi o florianopolitano Luís Paulo Costa Arruda, 26, do curso de administração. Depois de olhar para os lados algumas vezes, não escondeu o entusiasmo na sua fala: "Obrigado, professor Alcir!", bradou em agradecimento ao reitor, enquanto se aproximava da webcam, como se quisesse ter certeza de que seria ouvido.

Em casa, mas elegante 

A câmera de cada um dos alunos sempre exibia um ambiente diferente. Alguns estavam se formando a partir da cozinha de suas casas, os azulejos brilhando ao fundo e a geladeira fazendo figuração na lateral. Outros exibiam parte das suas salas de estar, e vez ou outra uma máquina de café expresso aparecia no enquadramento. Em outros momentos, os espelhos nas paredes denunciavam mais detalhes do cômodo.

Cada formando se ajustou como pode para transformar sua participação a mais solene possível. Iluminação, qualidade de imagem e até enquadramento variaram bastante, a depender do equipamento usado por cada um. Quem aparecia na vertical deixava evidente que se formava a partir de uma telinha de smartphone apoiada em algum móvel.

Os pouquíssimos problemas técnicos foram uma surpresa: a despeito de uma pequena microfonia aqui e acolá - provavelmente reflexo de uma família que assistia a transmissão no YouTube logo ao lado -, somente um dos alunos não conseguiu abrir a câmera. "É um pouco tenso, porque a gente depende totalmente da tecnologia e da internet", relata Morais. Bruno Scoz, o único graduando que não apareceu em vídeo, fez o que deu, no aperto do momento, para cumprir o mínimo necessário e abrir o microfone para soltar seu aliviado "obrigado", que lhe concedia a outorga do grau de tecnólogo em produção multimídia.

Para evitar contratempos, a universidade chegou a ensaiar os alunos, e o departamento de comunicação passou uma série de avisos - incluindo o que dizia respeito ao tipo de vestimenta dos formandos, que deveria ser apropriada à ocasião. Apesar do isolamento, pijamas e afins foram vetados. "Estaremos ao vivo para muito mais gente, em uma vitrine para o mundo inteiro", refletiu Renato Laurentino, coordenador de comunicação da instituição, consciente da amplitude do alcance de um vídeo na internet.

Além das cerca de 120 pessoas que acompanharam ao vivo, a transmissão da formatura - que segue disponível no canal da universidade - colecionava mais de 500 plays até o fechamento deste texto.

Diante da possibilidade de exposição global, os formandos não fizeram feio. Ao longo dos quase 40 minutos de transmissão, sorrisos largos de felicidade e de nervosismo apareceram na tela. Era visível o cuidado com o cabelo, a make e a unha das formandas, assim como a dedicação de Fernando Westphal para não tirar o brilho da ocasião apenas porque ela acontecia online. Graduando em engenharia civil, apareceu com toda a pompa, ostentando terno e gravata escuros sobre uma camisa listrada, tendo como fundo uma arca que colecionava algumas taças.

Já a tecnóloga em design de interiores Giovana Dallabona não escondeu a felicidade ao cerrar os punhos e agitá-los no ar em uma celebração que terminou com um riso para a lateral, com o olhar buscando o apoio da família. O paraense Roberto Rosa, formando de educação física, também não conteve o entusiasmo, estendendo os braços e deixando vazar um "uhul!" da família após o agradecimento.

Ainda que diferente da emoção de vestir beca e chapéu para a cerimônia de graduação, a celebração virtual também se mostrou um importante ritual de passagem para os mais de 50 formandos reunidos virtualmente naquela tarde. "A gente achava que ia ser algo muito frio e simplório, mas foi de grande emoção", comenta Morais, a coordenadora do evento.

Antes dos seus problemas técnicos, que envolveram uma inesperada atualização de software que fez a câmera parar de funcionar, o formando Bruno Scoz já acreditava que a emoção de se formar ia bater de qualquer maneira, mesmo com uma formatura tão fora do convencional. "Por ser online, vou poder convidar não só os familiares que moram perto, mas também enviar o link para os parentes mais distantes", contou ele, dias antes da formatura - sem saber que isso traria uma certa decepção para a família, que infelizmente não pode vê-lo na telinha.

Ao final de todas as diplomações, foi simbólico ver na tela os rostos e os microfones abertos, representando uma das mais recentes turmas a se formar, em meio a uma pandemia que os manteve em quarentena por meses a fio. A salva de palmas com que foram agraciados, inicialmente vinda do auditório da Unidavi ecoou em salas, quartos e cozinhas por ao menos outras 50 residências da região. Definitivamente, era possível se emocionar pela telinha.

Em uma mensagem de despedida, Jean Gilberto Caetano, professor das turmas de design de interiores, lembrou que as condições daquela colação de grau claramente não eram a que todos tinham imaginado no início dos seus cursos, mas que ainda assim era uma importante celebração do sucesso dos alunos. "Esse grupo ficou ainda mais especial, porque dentre tantos que ingressaram no ensino superior, esses conseguiram fazer a conclusão [do curso], por mais turbulento que tenha sido o ano", refletiu o professor.

Diploma por drive thru

Essa não foi a primeira - e infelizmente talvez não seja a última - formatura virtual da Unidavi. Diante da impossibilidade dos encontros presenciais, a universidade decidiu encontrar maneiras alternativas de fazer a colação e a entrega dos diplomas acontecerem de forma distanciada. Renato Laurentino afirma que nas primeiras edições houve uma certa resistência dos alunos, especialmente pelas dúvidas em relação à validade da solenidade ao ser realizada virtualmente. No entanto, diante da pressão do mercado, que exige o diploma para a inscrição em concursos como o da OAB ou até para a obtenção de vagas de trabalho, aos poucos os formandos se renderam à colação de grau online. "Muitos que não quiseram fazer parte das primeiras edições acabaram aderindo mais tarde", em edições subsequentes, destacou. Essa é a terceira formatura online realizada pela universidade.

A intenção da instituição é retomar a formatura presencial assim que possível. Quando isso acontecer, a promessa é que vá ser realizada uma nova cerimônia, dessa vez simbólica, para que todos os formandos possam ter uma recordação vestidos de beca. Já nessa modalidade pandêmica de formatura, a entrega dos diplomas é feita em formato de drive thru alguns dias após a transmissão da formatura no YouTube, quando a equipe da universidade se prepara para receber uma carreata de alunos, que passam de carro pelo campus para retirar seus certificados assinados, sem a necessidade de sair dos carros.

Mesmo à distância e virtualizados, agora os 51 formados da Unidavi podem ter a oportunidade de seguir com suas carreiras e planos. Como confessou Bruno Scoz, depois de superar um complicado último ano de aulas remotas, a formatura virtual parecia algo até fácil de se fazer. A voz digitalizada foi suficiente para confirmar a graduação. Daqui por diante, as esquisitices do mundo vão parecer quase que normais para os formandos 2020.


Fonte: tab.uol.com.br

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