OS SENTIDOS DO ENCARCERAMENTO PARA REINCIDENTES DE UM PRESÍDIO CATARINENSE
Trabalho de Conclusão de Curso
Atualmente, o Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, sendo a população masculina predominante dentro desses espaços. No primeiro semestre de 2022 há registro de que cerca de 661 mil homens se encontravam em privação de liberdade no Brasil, dentre os diferentes tipos de regime prisional, assim como variando os tipos de delitos cometidos. Cerca de 37,6% dos detentos, após a liberdade, retornam em até cinco anos a presídios ou penitenciárias como reincidente. A psicologia social comunitária concebe o sujeito como produto e produtor da sociedade em que vive, ou seja, além de ser diretamente impactado pelo seu meio, também é peça fundamental para sua manutenção, tendo um papel ativo na construção e no desenvolvimento da realidade que experiência. Na construção da identidade humana, a linguagem possibilita que o indivíduo vá se construindo como um ser participante e derivado de uma sociedade. Na estrutura da linguagem, o sentido está diretamente relacionado com o mundo subjetivo, considerando as atribuições positivas ou negativas que são feitas pelo ser humano sobre sua vida em sociedade ao decorrer do tempo. Considerando tais aspectos, o presente trabalho diz respeito a uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, que teve como objetivo geral conhecer os sentidos da experiência de privação de liberdade em homens reincidentes detentos de um presídio masculino catarinense. Para a coleta de dados, efetuaram-se entrevistas semiestruturadas com homens reincidentes detentos de um presídio masculino catarinense, as quais foram analisadas por meio da estruturação de núcleos de significação. A partir dos dados coletados e da análise discorrida, entende-se que os sentidos atribuídos a privação de liberdade foram singulares, mas com semelhanças significativas entre os entrevistados, sendo identificado em suas narrativas a ideia que o período de cárcere atua como punição direta e, por vezes, justificando seu envolvimento com atividades ilícitas. Do mesmo modo, ainda foi possível identificar o sentimento de aversão direta à experiência do cárcere, uma vez que fora considerado pelos entrevistados um período de desesperança e invisibilidade. Tendo em vista o compromisso social da profissão, entende-se como essencial que a psicologia se debruce perante os impactos que o sistema prisional causa em seus institucionalizados, a fim de possibilitar o desenvolvimento e aprimoramento de um sistema penal mais eficaz e humanizado. A presente pesquisa pôde demonstrar as diferentes experiências subjetivas desses indivíduos em privação de liberdade, de modo que esses sujeitos tivessem ao seu dispor um local de fala seguro e escuta respeitosa, dentro de um contexto que por vezes isso lhe é negado.